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Conto "Os três sábios e eu"



Em minha cidade residiam três sábios. O primeiro sábio dominava o campo das ciências. Tinha conhecimento pleno sobre o movimento do objetos, porque caíam, porque subiam. Entendia de mecânica, sabia construir espaçonaves e tinha conhecimentos sobre os pontos de luz no universo. Sabia tudo sobre o corpo humano, como nascemos e como morremos. Conhecia todos os lugares da Terra, as portas de entrada e as portas de saída. Era tão sábio, estudou tanto, que sua cabeça, cheia de conhecimentos, era grande e pesada. O segundo sábio dominava o campo das imaterialidades. Era um profeta, possuía conhecimentos sobre búzios, cartas, sabia prever o futuro, conhecia todas as religiões. Entendia de antimatéria e alquimia, sabia como passar de uma para outra dimensão. Sabia tudo sobre alma humana, como nascemos e como morremos. Conhecia todos os lugares do céu, as portas de entrada e as portas de saída. Era tão sábio, estudou tanto, que seu peito, cheio de conhecimentos, era grande e inchado. Eu era corcunda, pois carregava imensas e pesadas dúvidas. Um dia, cruzei na rua com o primeiro sábio. Esse, sem forças para erguer a cabeça, não notou a minha presença e passou direto por mim. Eu fiquei muito frustrado. No mês seguinte, na mesma rua, encontrei-me com o segundo sábio. Ele tinha o peito tão inchado que trombou comigo e me desequilibrou. Eu fiquei muito entristecido. As dúvidas se avolumavam e as minhas costas estavam cada vez mais arriadas com o peso de minhas dúvidas. Um dia, ao sair à rua, um homem ofereceu-me ajuda. Ele não tinha nem a cabeça, nem o peito inchados, tinha as costas eretas e o semblante tranquilo. Eu estava cético, mas como as dúvidas pesavam muito, deixei que ele me ajudasse. Foi um alívio! Com lições sobre os mundos material e invisível, o homem tirou algumas dúvidas de minhas costas. Depois, para a minha surpresa ele me agradeceu. Disse que andava aflito pelas ruas da cidade, à procura de alguém que pudesse aliviá-lo dos conhecimentos que estavam fazendo a sua cabeça e o seu peito inchar. Passamos a nos encontrar semanalmente para mais lições. Com o passar do tempo, deixei de ser corcunda. Hoje, saio às ruas com as costas erguidas e o semblante tranquilo à procura de pessoas assoberbadas com dúvidas, pois tenho sentido a minha cabeça e o meu peito ligeiramente inchados. __________________________________________________ João Pedro Roriz é escritor, jornalista, professor e ator. Todos os direitos reservados ao autor.

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