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Foto do escritorJoão Pedro Roriz

O LADO B DA MODERNIDADE

Atualizado: 2 de fev. de 2022



Minha esposa e eu compramos uma vitrola e alguns bons LPs. Essa volta ao passado gerou lindas memórias. Nas décadas de 80 e 90, eu ia às lojas do ramo com expectativa de encontrar determinada obra musical. Às vezes, o disco esgotava e precisava percorrer o bairro para encontrar. Depois de comprado o LP, passeava com a mídia dentro de uma sacola e mostrava a aquisição para os amigos. Na época, as pessoas tomavam conhecimento do gosto musical e faziam considerações sobre perfis e personalidades a partir das escolhas musicais. Era comum ir a casa de um amigo para escutar determinado LP ou determinada canção. Após comprar o bolachão, era preciso aguardar o momento certo para escutar, pois o processo exigia tempo. Era preciso tirar o disco da embalagem e do plástico protetor com todo cuidado para não arranhar. Depois, posicionar o braço da vitrola e ouvir. Quando finalizava o lado A, era preciso virar o disco para escutar o lado B. O lado B às vezes era mais aguardado que o lado A, pois eram as canções inéditas (ou seja, as que não tocavam na rádio). Após todo o esforço, a sensação era de prazer. Após escutar a mídia, era preciso retirá-la do aparelho, manejá-la com cuidado para não arranhar e guardá-la na embalagem. Ao colocar o disco no armário, ficava um tempão admirando a audioteca. Ouvir música era um processo caro, longo e que ocupava espaço. Mas isso dignificava a produção musical e os artistas. Sei que hoje o processo é mais fácil. A música digital é escutada a qualquer momento e serve para diferentes fins. A democratização musical causada pelo advento da Internet ocasionou popularização e pesquisa, ampliou os horizontes, individualizou e mesclou as escolhas musicais e diminuiu a distância entre o ouvinte e o músico. Mas confesso a vocês que senti forte emoção ao comprar minha vitrola reviver o ritual de décadas passadas. Percebi que música não é só gozo, não é só orgasmo. É também cuidado e preliminar. Começa ao apreciar a capa, despir o LP e ler seu encarte. Gozar algumas canções e conhecer o lado B do objeto amado. Sei não! Acho que o LP volta a ser moda aqui em casa a partir de agora.

João Pedro Roriz Psicanalista, educador e escritor www.joaopedrororiz.com.br Whatsapp 21998885570

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