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Entrevista - Professora Rosa Muniz Gonçalves

Atualizado: 20 de nov. de 2019


Nascida na Fazenda Juá, no Município de São Félix, interior da Paraíba, a professora e administradora escolar Rosa Muniz Gonçalves, 64, teve contato precoce com a educação. Ainda criança, dava aulas para os colonos da fazenda. Dizia que ia ser professora e que fundaria uma escola. Queria formar cidadãos, pois acredita que o desejo de progredir justifica o direito de estar vivo. Formou-se em Letras Português – Francês e buscou a graduação de Administração de Empresas. Fez pós graduação em Administração Escolar e em Docência do Ensino Superior. Não parou por aí e agora estuda Neuropsicopedagogia. O sonho se tornou realidade no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, ao fundar a Jardim Escolar e a Livisa, escola profissionalizante.

Sempre cercada por adolescentes e crianças, alunos e ex-alunos, a professora se emociona ao narrar sua jornada. Comecei minha entrevista perguntando qual história mais a marcou ao longo de sua longa carreira.

“Fui contratada do Estado, no ano de 2000, no Telecurso 2º. Grau, pelo Projeto Viva Rio e ministrei aulas para policiais de idades variadas. Aqueles homens sofridos deixavam suas casas, famílias, para proteger a nossa cidade. Missão árdua, seres valentes, que após horas duras de trabalho, iam em busca do saber, da oportunidade que um dia lhes foi roubada. Como se diz em francês “Recherche du Temps Perdu”. Vivenciei com eles o caso do sequestro do ônibus 174. Meus alunos estavam extenuados. Obriguei-me a criar um novo planejamento onde incluí Ética, Relações Humanas, Psicologia. Eram 68 homens em uma sala grande e eu com 1,50 de estatura, frágil diante dos acontecimentos. Agigantei-me para compensar a fragilidade dos meus alunos. Ensinei-os, que apesar de todo aquele momento, entre tantos outros que eles relataram, de tensão e dor, havia alguém na casa de cada um de nós, nos esperando voltar".

João Pedro Roriz - Dar aulas é uma grande responsabilidade. No seu caso ainda maior, pois além de crianças e adolescentes, você forma professores. Qual é o segredo de uma boa aula?

Rosa Muniz Gonçalves - Pense em seu aluno, sempre como um parceiro, alguém, com quem poderás trocar experiências. Leve-o a refletir a importância do seu tempo dedicado ao ensino-aprendizagem e a refletir sobre o seu objetivo final. Ter uma postura elegante sem jamais ser arrogante.

Seja amigo, cordato, mas, sempre mostrando que a disciplina, organização, afeto, são fatores fundamentais para alcançarmos resultados positivos. Mostre ao seu aluno, o quanto ele é importante para sua vivência profissional e que sua meta pessoal e seus avanços enquanto professor podem depender de formação continuada, o que, com certeza, refletirá em um ensino cada vez melhor.

Faça com que suas aulas sejam mais interativas, incentivando a participação do aluno com debates positivos e para se tornar o momento mais atraente e ainda falar a língua desses alunos que muitas vezes, são nativos digitais, sem maior interesse pela leitura, o que o torna um indivíduo mais capaz e consequentemente interessado no novo, de formar e causar interesse pela busca, pela pesquisa, algo tão importante para a promoção do conhecimento. Instigar questionamentos, compartilhar saberes... Estabelecer uma relação saudável com seu aluno, fazendo com ele possa encarar as dificuldades como oportunidades de inovação e com isso, construir um espaço de infinita aprendizagem.

Através da criatividade o professor poderá moldar-se às adversidades, superar os obstáculos e demonstrar que a aquisição de conhecimento, sendo construída, ainda pode ser aprofundada. Além disso, esse processo de avanço contínuo é uma demonstração de paixão pelo que se faz e tudo que se faz com amor é fonte de prazer. O segredo de um bom Professor está na vontade de fazer a diferença.

JPR - Quando se depara com uma grande quantidade de informações, como normalmente estrutura sua didática?

R.M.G - O principal é organizar o pensamento e defini-las de forma consciente que o aluno possa compreender e alcançá-las.

JPR - Como fazer para o aluno entender a teoria e colocá-la em prática? Existe algum segredo especial?

R.M.G - O papel do docente hoje é fazer parceria com os alunos. Reflexões sobre a função e o lugar da escola hoje. E sobre como profissionais, por sua reconhecida experiência no “fazer”, podem suprir a falta de preparo didático, transformando-se em facilitadores do aprendizado dos discentes.

Segundo Jean Piaget, A preparação dos professores constitui a questão primordial de todas as reformas pedagógicas, pois enquanto ela não for resolvida de forma satisfatória, será totalmente inútil organizar belos programas ou construir belas teorias a respeito do que deveria ser realizado.

A educação está intimamente vinculada à filosofia de cada época, que lhe define o caráter, rasgando sempre novas perspectivas ao pensamento pedagógico, a educação nova não pode deixar de ser uma reação categórica, intencional e sistemática contra a velha estrutura do serviço educacional, artificial e verbalista, montada para uma concepção vencida.

“A sala de aula não precisa estar restrita ao espaço delimitado pelas quatro paredes, o quadro negro e as carteiras dos alunos. Ela deve abrir-se – eliminando o que no cinema ou no teatro se chama ‘a quarta parede’”.

“A sala de aula deve prolongar-se pela biblioteca, pelos corredores, pelos museus, pelos cinemas, pelas salas de exposições, pelas lojas, pelas fábricas, enfim, pelo meio ambiente físico e social onde o verdadeiro aprendizado se desenvolve, é concreto e ligado à vida real.”

Os conteúdos culturais que a escola trabalha e atualiza se referem ao conhecimento, destrezas e habilidades que os formandos (cidadãos) usam para construir e interpretar a vida social.

JPR - Você em algum momento já teve vontade de mudar a forma como apresenta suas aulas?

R.M.G - Em particular, sabemos que cada indivíduo é único e mesmo quando trabalhamos grupo, sala de aula, o professor deverá ministrar sua aula considerando sempre que deve ser flexível, para a qualquer momento, proceder com a mudança que se fizer necessário, para o sucesso do ensino-aprendizagem. Entendo, que conforme o momento, a situação, se faz necessário um planejamento adaptável.

JPR - Em sua opinião, o que faz o aluno gostar de seu professor e das matérias que ele professa?

R.M.G - Em geral empatia, afetividade. Faz toda a diferença, o bom acolhimento do professor ao aluno, a predisposição em partilhar o conhecimento (ensinar de maneira a valorizar o aluno e o que o mesmo traz de experiência...). Compreender os momentos difíceis que o aluno possa estar atravessando... Entender e respeitar suas dificuldades para que dessa forma, eleve a sua estima e estimule o mesmo a desenvolver suas habilidades.

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João Pedro Roriz é escritor e jornalista. Todos os direitos reservados.

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