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Crítica. Livro "Sepé Tiaraju, Romance dos Sete Povos das Missões"


Uma guerra histórica acontecida no Sul do País reuniu as potências militares da Espanha e de Portugal para lutar contra reduções socialistas formadas por padres jesuítas e índios guaranis. A guerra luso-hispânica-guaranítica aconteceu no estado do Rio Grande do Sul na ocasião das demarcações da nova fronteira entre Brasil e Argentina idealizadas pelo Tratado de Madrid. Metade das civilizações guaraníticas autossustentáveis tinha apenas três opções: fugir em tempo recorde para o lado espanhol da divisa, ficar em suas terras e ter sua população indígena escravizada por Portugal, ou lutar. O conflito tornou-se iminente em 1755 quando Sepé Tiaraju, cacique da tribo guarani e Corregedor da cidade de São Miguel Arcanjo mobilizou suas tropas para resistir à invasão.

O romance "Sepé Tiaraju - romance dos sete povos das missões", de Alcy Cheuiche é talvez a melhor obra de ficção brasileira sobre o conflito. Pouco se fala sobre essa guerra no Brasil, diferentemente do que ocorre na Europa, onde há estudos acadêmicos sobre o curioso aparato militar e a relevante organização social dos sete povos das missões. O autor brasileiro cria refúgios fictícios para divertir a alma de seu leitor e o faz com grandes assertivas, criando uma esfera de mistério em torno da trama, humanizando a mítica figura de Sepé e trazendo ao conhecimento geral a biografia fictícia de seu tutor, o padre Miguel - personagem principal e narrador da história.

A obra é publicada atualmente pela AGE Editora que tem se esmerado na produção de livros de problematizações históricas que reverenciam o autor e a cultura gaúchos. O próprio Alcy Cheuiche é um espelho do que ocorre com a história da guerra guaranítica e a própria cultura sulista - muito conhecidos no Rio Grande do Sul e pouco discutidos no resto do País - uma injustiça, já que a obra de Cheuiche ganha repercussão internacional nesta oitava edição revista da AGE.

Conhecer Alcy Cheuiche faz bem. Sua literatura é informativa e dotada de grandes imagem. Dono de um vocabulário conceitual, não fica preso às armadilhas da língua galdéria. Ao mesmo tempo, Cheuciche emociona seu povo com referências pontuais sobre a cultura gaúcha e indígena, sua história e geografia. Elucida também os outros leitores sobre as características típicas, os hábitos e os costumes do povo interiorano daquela terra. Sua pena me faz lembrar Assis Brasil, Érico Veríssimo, Julio Ricardo da Rocha e outros escritores gaúchos que deixaram depoimentos emocionantes sobre a dramática e emocional história do Rio Grande do Sul.

"Sepé Tiaraju" é ideal para adoção em escolas e universidades que abordam a guerra guaranítica, além de leitores que gostam de novela épica e os estudiosos dos sete povos das missões. O livro tem uma datação didática, com invejável acervo histórico e boas resoluções de trama. Escrita em primeira pessoa, traz belíssimos conceitos narrativos. A novela tem capacidade de emocionar e causar temor, suspense e esperança até mesmo às pessoas que já conhecem a malfadada história de São Miguel Arcanjo, onde ainda jaz as ruínas de sua igreja e de sua cruz jesuítica.

João Pedro Roriz é escritor, jornalista e arte-educador.

Todos os direitos reservados ao autor.

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