Respeito o medo de todo dia. Não o medo de avião. Respeito o medo de quem vive com alegria, com a cabeça nas nuvens e com os pés no chão.
Uma queda inesperada, as máscaras de oxigênio... esse que nos falta, quando a asa da direita está quebrada. Tenho medo da vida. mas quem não tem? Tenho medo das feridas que vão e que vêm. Tenho medo de quem não conhece a pobreza. Tenho medo de quem não sabe sorrir. Tenho medo de envergonhar meus pais. Medo quando eles temem por mim.
Meu medo é mais fundamentalista que os terríveis homens-bombas terroristas que amedrontam a TV. Por isso, temo tanto as novelas e os comerciais feitos para convencer você. Tenho medo de quem quer desesperadamente mudar minha opinião e muito, muito medo daqueles que nunca abrem mão.
Tenho medo do Governo, mais medo da polícia do que do ladrão. Tenho medo de gente que reúne beleza, riqueza e esperteza em uma única encarnação.
Tenho medo de não conseguir trabalho. Tenho medo de mudança, de quem perdeu a esperança, de perder minha aliança e ter que dar explicações.
Tenho medo, muito medo de morrer só. Só não tenho mais medo, muito medo, da casa da minha mãe. da saudade de meus irmãos, do quarto de minha avó; do colo da minha mulher, do cheiro do perfume do meu pai. do feijão e do arroz e do brigadeiro de colher.
Esse medo que chamo de vida é tempo de viver, encher a barriga, escolher as dores que quero sentir, as roupas que quero vestir, o dinheiro que quero investir. Esse medo, esse, que dói dentro, é medo do fim. É feudo da verdade que quer desistir de ser prisioneira, de ser companheira do medo da tal liberdade que vive em mim.
João Pedro Roriz é escritor e jornalista. Todos os direitos reservados ao autor.