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Crítica ao livro "O Rouxinol" de Kristin Hannah

Atualizado: 26 de nov. de 2019


OBRA MARCA A PASSAGEM DO SÉCULO DAS BARBÁRIES

“Lugar comum” é o termo que se aplica a muitas obras que abordam a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Após o descortinar da infâmia, do sangrento episódio que manchou com sangue o século que passou – e que, ao menos em nossas expectativas, findou com determinante marco a época da barbárie – sobrou pouco material inovador para o desenvolvimento de obras a cerca do famigerado tema. Mas como leitor, não deixo de me surpreender. Nos escaninhos de tão vasculhado tema, reside na condição de superação, na resoluta vontade de sobreviver, um subtema que mantém acesa a chama da emoção: trata-se da resistência. Em “O Rouxinol”, publicado no Brasil pela Arqueiro, a legendária resistência francesa é escolhida por sua autora Kristin Hannah como cenário de uma história franca, vertiginosa e que explora centímetros da emoção humana. Muito além da resistência armada, Hannah nos apresenta o lado mais obscuro dessa guerra: a resistência francesa vivida a cada dia, sobre os ombros das dedicadas mulheres que precisam lidar com a ocupação alemã enquanto seus homens lutam na linha de frente. Desse universo, a autora nos apresenta duas personagens distintas: uma jovem guerreira que sempre se sentiu deslocada do mundo onde vive e que encontra, na guerra contra os alemães, utilidade para sua rebeldia; e sua irmã, a sensível Vianne, que a despeito de seu temperamento dócil e servil, descobre em sua resiliência um meio de se sobrepor às agruras que a oprimem. A resistência, como tema, nos traz lições sobre a luta vivida nos bastidores, sem armas, apenas coração, paciência e coragem. E Kristin Hannah é brilhante! É maravilhoso poder desfrutar de seu conhecimento a respeito dos temas que aborda: História, família, política, culinária, sociologia e relacionamentos. A história é tão viva e febril que chega a causar sentimentos ambíguos: repulsa e esperança. A cada página, uma certeza de que por mais incerto que seja o futuro, é possível, mesmo em um ambiente hostil e opressor, desempenhar o papel de protagonismo, sempre de acordo com a ética e do bom senso. Rigor histórico e ativismo político, feminismo no ponto certo, com certa dose de romance aventura fazem deste “O Rouxinol” um sucesso que abarca leitores de todos os entendimentos, etnias, credos e gêneros. E a autora ainda nos traz uma surpresa no final: apenas no último capítulo é possível saber qual irmã está contando a história do livro. “O Rouxinol” é sem dúvida uma daquelas obras que marcam definitivamente a passagem do século, oferecendo a todos um olhar mais sensível sobre a forma como conduzimos os interesses políticos e sociais. A obra não só emociona como faz chorar de verdade. É teia de grandes ideias, construída por uma arquiteta talentosa responsável pela venda de 12 milhões de livros em todo o mundo. Aguardo com ansiedade os próximos volumes. João Pedro Roriz é escritor e jornalista. www.joaopedrororiz.com.

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