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Por que gostamos tanto de mitologia?

Atualizado: 26 de nov. de 2019


Contar histórias não é coisa só de escritor. Ao longo da evolução humana, aprendemos a nos comunicar de variadas formas e com isso desenvolvemos técnicas de sobrevivência e talentos que permitem nossa subsistência no planeta Terra.

Mas nem sempre tivemos computador e celular à disposição. Essa tecnologia é muito recente. Como é que o pessoal fazia para se comunicar antigamente? Através da ORALIDADE PRIMÁRIA. É a forma de comunicação mais simples que existe. Feita através da FALA ou dos GESTOS. Basta haver um emissor (alguém que transmite a mensagem) e um receptor (alguém que recebe a mensagem). Mas para e pensa: nem sempre tivemos fotografia e filmagens para nos fazer recordar das coisas que nos são ditas. Essa tecnologia também é recente. Então como é que a galera fazia para memorizar as informações que eram passadas de pai para filho?

Você pode pensar que era através da escrita. Sim. Durante muito tempo foi dessa forma. O alfabeto é uma invenção egípcia que data do ano de mil antes de Cristo. Mas antes disso (e mesmo durante) o processo de criação e execução do alfabeto, poucos eram os privilegiados no mundo que sabiam ler e escrever. Outro problema existia: o papel só foi inventado na China no século I depois de Cristo. E ainda assim, era caríssimo. A imprensa como a conhecemos hoje só foi inventada por Johannes Gutenberg em 1450. Então, como é que os humanos tinham a capacidade de guardar as informações que lhe eram passadas através da oralidade primária?

Acertou quem pensou nos mitos. Os mitos são criações coletivas que derivam da necessidade de se traduzir ideias primárias sobre o mundo. São crenças que não nascem da pesquisa ou do intelecto, mas que estão em pé de igualdade com a racionalidade sobre o mundo. O mito é baseado em personagens e histórias fantásticas. Através dessas histórias imagéticas (ou seja, que criam imagens) é que foi possível educar e transmitir conhecimentos que puderam ser memorizados e passados de pai para filho.

O mito de toda forma se opõe à razão. É a crença que não pode ser confirmada pela Ciência, pois se baseia em fenômenos, não na consciência intelectual sobre eles. Mas isso não significa que o mito é algo menor. Ao contrário. É parte da crença de todos nós e por isso mesmo tem seu papel na formação das culturas humanas.

Ainda hoje, a maioria das pessoas acredita em mitos. Adão e Eva, Deus e Noé são personagens mitológicos. Mesmo personagens históricos que a Ciência classifica como verdadeiros como Jesus e Maria são, repetidas vezes, transformados em personagens míticos. Mesmo alguns personagens de nossa vida cotidiana podem ser transformados em mitos, depende do grau de compreensão que você tem sobre suas existências. O pai e a mãe são para as crianças pequenas dois mitos. Seu comportamento é seguido e sua palavra se torna Lei. Alguns artistas de TV perdem para seus fãs seu caráter humano e passam a ser classificados como heróis, sinônimos de perfeição, inteligência e desejo. Mesmo quando você se apaixona e passa a acreditar que não está a altura do objeto de sua paixão, pode-se dizer que acabou de transformar o pobre coitado do ser amado em um mito. É como disse Blaise Pacal (1923-1962), "o coração tem razões que a própria razão desconhece".

Explicado o contexto histórico do MITO, falta entender: por que as pessoas gostam tanto de mitologia? Para isso é preciso entender o significado da palavra "mitologia". MITO você já sabe o que é. Em grego Mithós significa "narrativa".LOGIA significa "estudo". Logo, mitologia é o estudo da narrativa mítica.

Se analisarmos com carinho, observaremos que o Mito muito se assemelha à arte. O teatro, a música e a poesia têm origens nas histórias mitológicas. Eram formas de comunicação de massa antes do surgimento do rádio e da televisão. Essas mídias eram usadas (e são até hoje) para divulgar os mitos. A própria simbologia exposta na construção mítica nos remete à criação de histórias. Portanto, é seguro dizer que a mitologia é berço da produção artística. Os heróis como Superman, Batman e Homem Aranha descendem da visão mítica dos deuses. Os contos da carochinha tem seu pezinho lá nas histórias da mitologia. São histórias que sofreram influências e adaptações ao longo dos séculos, mas que mantém o propósito original de educar, proteger e alertar.

Outro aspecto que nos faz gostar muito de mitologia é conceber a historicidade e a evolução do Homem diante do tempo. As características que nos tornam hoje senhores de nossa própria vontade perpassam irrefutavelmente pelos primórdios de nossa existência, onde temíamos o fogo e os raios.

Fora isso tudo, mitologia é muito divertido. Sem ela, não entenderíamos como desenvolvemos formas de comunicação, de memorização e de criação de tecnologias. As histórias da mitologia grega, egípcia, fenícia, normanda, gaulesa, católica e indiana são divertidas, emocionantes e às vezes assustadoras. Vale a pena conhecer todas!

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João Pedro Roriz é escritor, jornalista e arte-educador.

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