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Foto do escritorJoão Pedro Roriz

Vontade de namorar durante a adolescência. E agora?

Atualizado: há 3 dias


Muitas crianças desejam namorar e o ideal é que não passe de um simples desejo. Adolescentes maiories de 14 anos precisam da autorização dos pais.

Crianças (0 a 12 anos), a priori, não estão prontas emocionalmente e cognitivamente para desenvolver um relacionamento amoroso. Juridicamente, ainda não podem tomar decisões por livre e espontânea vontade, pois subtende-se que não possuem capacidade de fazer contratos sociais. Quando crianças declaram desejo explícito de namorar, de fato reproduzem um discurso adulto, motivadas pela cultura e pelas representações midiáticas a que estão submetidas.

Ao entrar na fase da adolescência (12 a 18 anos), meninos e meninas demonstram interesse genuíno pelo sexo oposto. Mas ainda assim, é preciso tomar alguns cuidados. A Constituição Brasileira desde 1990 considera crime qualquer envolvimento amoroso ou sexual com menores de 18 anos. A Lei é ainda mais rígida quando a relação amorosa ou sexual envolve pessoas com idade inferior a 14 anos - é categorizada como "estupro presumível". E não há qualquer ressalva em relação à idade do(a) parceiro(a) ou sobre o consentimento do(a) menor.

Outro fator crucial que precisa ser considerado é a própria característica psicológica e física do adolescente ainda em processo de puberdade. Até os 14 anos, trata-se de um sujeito em formação. Não tem maturidade e conhecimentos sobre o próprio corpo, não possui características identitárias que o ajude a assumir as complexas responsabilidades de um relacionamento amoroso.

Se você tem entre 14 e 18 anos, gosta verdadeiramente de outro adolescente e sente que é correspondido, deverá pedir autorização dos pais para se envolver em um relacionamento amoroso. O parceiro e parceira também deverá obter essa mesma autorização de seus pais. Importa salientar que adolescentes não podem se envolver com adultos jovens (18 anos a 26 anos) ou adultos maduros (26 +), pois diante de qualquer denúncia ao Ministério Público, o adulto em questão poderá ser preso.


Toda atividade realizada por um menor de idade precisa da anuência de seu cuidador e responsável legal. Nesse sentido, pai e mãe possuem o direito de vasculhar celular, ler mensagens, determinar hora de chegada e saída, e regular amizades e as ações de seus filhos menores de 18 anos. Crianças e adolescentes poderão apresentar sentimentos antagônicos em relação a seus pais nessa fase da vida e entrarem em conflito com as atitudes cuidadosas de seus entes parentais. É comum e absolutamente compreensível. Para que esse conflito não seja desruptivo, é sugerível que pais e filhos negociem os limites desses cuidados. Nesse sentido, vale a pena lembrar que toda relação se baseia em acordos, contratos e sentimento de confiança - um valor que precisa ser construído dentro da própria relação.


Os pais têm obrigação de municiar seus filhos adolescentes com informações sobre o sexo e suas consequências. Devem ainda informar quais são os deveres de um sujeito dentro de uma relação amorosa: o que significa ser responsável pelo sentimento de outra pessoa, o que significa assumir um compromisso dessa magnitude, que pode impedir o sujeito de curtir e aproveitar outras experiências sociais típicas da idade. Logo, importa refletir se o namoro em tão tenra idade tem como objetivo a autossatisfação ou se trata apenas de uma resposta a uma opressão social.


Segurança é o principal receio. Muitos pais temem que seus filhos tenham um relacionamento com um(a) parceiro(a) mais velho(a) e que essa relação possa ser desigual ou tóxica. Há a preocupação com DSTs - doenças sexualmente transmissíveis e com gravidez precoce. Outra preocupação é que o adolescente perca momentos divertidos e importantes em família para se lançar a um relacionamento amoroso antes da hora.

Se você ainda está no começo da adolescência e já demonstra desejo de namorar, é muito importante tentar entender os motivos. Namorar significa dividir da intimidade e dispor-se para que o outro possa também ter em você um lugar de conforto, de prazer e de descanso. Significa aceitar o outro em suas necessidades e defeitos e construir com esse outro um projeto de parceria e cumplicidade. É um processo que pode ser muito prazeroso, mas que também atravessa momentos de desafios. Precisa, portanto, ser um movimento natural e caracterizado pelo interesse inegociável de ambos quererem dispor de uma experiência amorosa em comum. Namorar não pode ser motivado por status, por desejo de posse do outro ou de transformação do outro.


Namorar é sim um ato de maturidade. E maturidade é uma qualidade do adulto. Adultos são aqueles que se responsabilizam por suas próprias escolhas. Se você ainda não está pronto para fazer isso, então não faça compromissos afetivos antes da hora. É importante salientar que você terá ainda muito tempo para ser adulto. Não precisa se afobar. Não deve começar um namoro por causa do medo que tem de perder o ser amado para outra pessoa (você amará outras pessoas ao longo da vida), ou simplesmente porque deseja se destacar socialmente ou porque espera perder a virgindade.


Se ainda assim, você deseja namorar e acredita que está pronto(a) para essa experiência, fique atento(a) para essas dicas: Se você é adolescente com mais de 14 anos, só namore com autorização dos seus pais. Namore alguém com idade próxima à sua. Lembre-se que não deve começar um relacionamento por pressão de amigos, do ser amado, ou simplesmente por se sentir sozinho(a). Não precisa começar a namorar só porque tem atração sexual por um menino ou por uma menina. A decisão de namorar demanda cautela, afinal, doravante, você lidará não apenas com os próprios sentimentos, mas também com os sentimentos de outra pessoa.

Sempre bom esclarecer que o namoro é um contrato. Por isso, deve ser regimentado por regras. Essas regras precisam ser estipuladas pelas duas partes interessadas no caso: os enamorados. Mãe, pai, sogros, tios, professores, irmãos mais velhos podem até sugerir mudanças ou dar conselhos. Mas cabe aos dois enamorados e somente a eles as decisões que tomarão conjuntamente. É um projeto sério que requer maturidade e responsabilidade. Por isso precisa ser bem pensado e elaborado, com amor e também com razão.

Essas premissas podem parecer "caretas", mas não são. Mesmo um "namoro aberto", prática comum nos dias de hoje, precisam ser alinhavadas por regras bem definidas, para que não haja entre os enamorados sentimentos contraditórios como mágoa ou tristeza.

Ao pedir alguém em namoro, esteja certo do grau de comprometimento que deseja ter com essa pessoa. Não esconda esse pensamento da pessoa amada. O seu parceiro ou parceira espera que esse relacionamento seja duradouro e espera poder confiar em você. Não quebre contratos, pois além de ser antiético, você ficará marcado como irresponsável por seu grupo social. Procure ser justo em suas decisões e tente sempre pensar no seu parceiro ou parceira ao tomar uma decisão importante sobre sua vida. Um relacionamento saudável envolve pessoas que respeitam as decisões alheias e que buscam apoios mutuamente, sem cobranças excessivas ou ciúmes que ultrapassem o limite do bom senso. Impedir que um companheiro ou companheira cresça socialmente por medo de perder o ente querido, boicotar ou restringir suas relações de amizade e tentar dissuadir o ser amado de suas convicções e crenças, chantagear o ser amado com ameaças de rompimento ou de traição, é um tipo de violência psicológica, além de ser um subterfúgio que denota imaturidade e insegurança.


Ao mesmo tempo nenhum namoro deve substituir as amizades ou a vida em família. Se o namoro é bom, precisa ter um espaço e um tempo que não impeça os enamorados de desfrutar de outras alegrias e prazeres com amigos, colegas de escola ou familiares.

E lembre-se. Namoro na adolescência deve ser acima de tudo divertido. Não por conta das atividades que farão juntos, ou por causa das possibilidades (reais!) de ter a primeira relação sexual. Não por conta do status social que poderão alcançar com este relacionamento, muito menos por conta da segurança que um namoro ocasiona. Não! Um namoro só é divertido quando duas pessoas curtem muito estar juntas. E para isso, não há exigência de cenários ou dinheiro, de sexo ou de status.

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João Pedro Roriz é psicanalista, Professor-Mestre em Psicologia pela FEEVALE, psicopedagogo, escritor e educador.


Todos os direitos reservado.


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