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Foto do escritorJoão Pedro Roriz

Análise psicanalítica do filme "O Telefone do Sr Harrigan"


João Pedro Roriz


Está disponível na Netflix o longa metragem "O telefone do sr Harrigan", em língua inglesa, filme de 2022, dirigido por John Lee Hancock e estrelado pelo jovem ator americano Jaeden Wesley Martell e pelo veterano ator canadense Donald Sutherland. A obra é um thriller leve, baseado em um conto homônimo do famoso escritor de literatura de horror, Stephen King, que aborda a relação de amizade entre Craig, um típico garoto do interior americano e Harrigan, um idoso bilionário solitário.


Como o filme é um mistério, não ousarei postar nenhuma informação que não esteja no resumo do filme. É importante que você saiba que o mistério se constitui no fato de que Sr Harrigan passa a se comunicar com Craig através de mensagens de celular após sua morte, o que intriga o protagonista. Um fenômeno que é observado neste filme, particularmente em relação a Craig, é que o menino possui lutos não muito bem processados em sua cena infantil, o que impede o rapaz de ressignificar a morte de seu amigo bilionário.



O luto é, para a Psicanálise, marcado pela readequação do aparelho psíquico em relação a uma perda de algo ou alguém - que chamamos de objeto de afeto. Com a queda do objeto, o ego pode apresentar uma ferida narcísica, que precisa ser tratada no consultório de psicanálise. A libido é uma energia vital que descarrega nossos desejos em atividades, em ações e em objetos de afeto. Quando a libido não encontra o objeto de afeto, o organismo pode, em resposta, processar as ansiedades, pois as pulsões se acumulam. Essa certas circunstância, essa situação pode levar o sujeito à depressão, pois a libido não tem onde descarregar as pulsões. Em casos extremos, o sujeito pode inclusive apresentar um quadro de somatizações (quando a libido descarrega no corpo) e até mesmo um quadro de melancolia (quando a libido descarrega na dor e o indivíduo entende que há gozo no sofrimento).


No filme, é possível observar que Craig recorre a uma forma de compensação muito comum: para não lidar diretamente com a dor da perda, ele utiliza o objeto transferencial (o celular) como ponte para supostamente se comunicar com o ente querido que faleceu. Apesar de absurda essa ideia, é muito comum ver pessoas utilizarem um objeto simbólico como ponte entre o objeto perdido e a satisfação de seu desejo narcísico. É o que acontece, por exemplo, com bebês que desmamam do peito da mãe e descarregam suas necessidades simbólicas em uma chupeta.



Assista a um vídeo com o resumo deste artigo


Lacan diz que todo objeto perdido forma uma sombra sobre o ego do sujeito. O autor francês categoriza o luto como um período importante, onde o indivíduo é obrigado a conviver com a presença da ausência do objeto de afeto. Aqui operam-se os mecanismos de defesa do ego, com grande destaque para a negação e para a sublimação. A forma ideal, porém, de lidar com perdas é assumindo os prejuízos que elas causam e assumir as dores delas decorrentes. É um processo sempre muito excruciante, que precisa ser respeitado e acompanhado com afeto e atenção pelo psicanalista.


Para maiores informações sobre análise psicanalítica e sobre como estudar Psicanálise, entre em contato.


João Pedro Roriz é psicanalista clínica, educador e escritor. Todos os direitos reservados ao autor.

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